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Brasília Mineira


No final de Abril, fui à Brasília rever meu amigo Gustavo Minas. Já tinha mais de um ano desde que eu conheci a Capital Federal, e em ambas as vezes o pretexto foi darmos um curso de fotografia de rua por lá. No entanto, a verdadeira razão sempre foi estar perto de quem a gente gosta.

Perto do Minas você vê muito mais cores, luzes e reflexos do que o normal. Mas não há muita normalidade nesse pacato rapaz de Cássia/MG. Todas manhãs, antes que eu acordasse, ele já tinha tratado umas 10 fotos e descoberto umas 3 referências novas. Sem contar os seus preciosos livros por toda a casa, o real curso sou eu quem faço.

Dessa vez pude passar mais tempo por lá, eu estava ansioso para conhecer e fotografar a cidade do mestre da luz cremosa. É engrandecedor estar instigado a fotografar pela simples presença de alguém que transpira fotografia o tempo todo.

Com mais calma, percebi melhor uma Brasília bucólica. Uma cidade expandida, com transito peculiar, de encontros raros e valorosos.

E que luz é essa, senhoras e senhores? Luz de mais, céu de mais, nuvens de mais! Faltam cenas acontecendo em tantos lugares em que sobram luzes sem ninguém. Mas é lindo de ver quando está tudo lá.

Minas parece não perder nada, atento aos mínimos brilhos de luz. Ele vai colecionando esses momentos como quem pega uma pena que flutua no ar. Raramente perde a chance de capturar uma, sem muito estardalhaço, mineiro, quieto. Interessante como ele mistura um jeito invisível, despercebido, com um andar frenético, de quem sabe que a próxima esquina pode reservar algo ainda melhor. Minas tem ânsia de ver, fotografar, testar, se aprofundar na cidade. Seu jeito de bom moço ainda rende ocasionais pedidos de fotos, que sua simpatia não nega. Lá em Brasília existem duas Rodoviárias: a de todo mundo, e uma só dele. Devo admitir que o imaginário que eu levava da "Rodoviária do Minas" me intimidava um pouco quando fui a primeira vez à capital do país.

Mas o que eu acabei encontrando foi um lugar bastante comum, até decadente. A diferença estava no rapaz de shorts, meias pretas e bolsinha de lado. O refúgio movimentado e cheio de vida, se transformou em seu templo, em que ele conhece cada luz de cada época do ano, ou período do dia. É impressionante o domínio espacial que ele tem ali. É seu parquinho de diversão, uma Rodoviária que ele usa para construir a sua própria. Tal universo denso e complexo só poderia surgir a partir de inesperadas consequências da vida. Um aficionado por fotografia de rua que se muda para uma cidade sem rua, com um único lugar em que pessoas normais se encontram aos montes. Um improvável casamento perfeito.

Para mortais, como eu, é impossível enxergar por completo essa tal Rodoviária que vive nos olhos do Minas. Com bastante esforço, consegui ver por uma fresta, num fragmento de reflexo, um rastro de luz dura dando brilho a uma cor saturada.

Talvez a única maneira de ver a Rodoviária do Minas seja visitando seu site, esperando pelo dia em que o livro estará a venda nas livrarias mais espertas do mundo. Ele, de fato, está a frente. É o melhor de nós.

Que bom estar pra trás e ainda ter tanto a conhecer! Porque todas vezes que pensei estar chegando perto de compreender e dominar alguma nova linguagem, lá estava o Minas, anos há frente, já arrasando em uma outra mais complexa.

Se você gosta do trabalho do homem, aqui vai um segredo de quem conhece o acervo: saiba que alí tem muita foto maravilhosa guardada porque "passou o tempo de ser exposta", segundo o dono. Quem sabe um dia consigo curar um livro ou exposição dele? Prometo trazer tesouros a luz.

Até lá, continuo aprendendo. Presenteado a cada novo post, com mais uma corzinha na luz para aquecer meu coração.

Ainda bem que você existe, Minas! Inspirando tanta gente a enxergar além das cores primárias, fazendo foto com a multidão organizada no quadro, iluminada pelo sol das primeiras ou últimas horas do dia.

Obrigado por puxar o bonde com tanta elegância, seguimos te seguindo. Nos vemos na próxima aula.

*Todas as imagens que ilustram esse post foram feitas por mim em Brasília, Abril de 2018.

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