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LIMBO Vol. 2

2024

Seu suor salgado melava ao escorrer sobre as poças de pus.

A cada semana, a ferida crescia um palmo corpo acima. Ou seriam meses?

Sob a lenta pressão desértica, dias e noites já não contavam. 

 

Entre lapsos de vigília, incontáveis devaneios.

Sonhos perturbados por pesadelos que teimavam em tomar conta.

Sem direção, sem leme, incapaz de atravessar a mais fina das linhas. 

 

A deriva na imensidão vazia.

Nem vida, nem morte, suspensão na desesperança mal cheirosa e azeda.

A latência do fim doía desde o início.

Só o que havia era meio, era chaga latejante.

E a cada pulsar, um novo golpe, um sopro a menos, uma nova agonia da alma. 

 

O chumbo no corpo era pluma perto do peso na consciência.

Seus pecados se multiplicavam setenta vezes sete.

Sua sentença: capital. 

 

Testemunha do poder das palavras, temia até esboçar pensamentos, mesmo que já não fizesse mais sentido com nenhum.

Fingia ignorar os uivos dos ventos, pois já não tinha voz para gritar em resposta. 

 

Sua boca era túmulo, seus olhos eram túneis.

Seus pés eram dor, suas mãos eram pó.

Sua mente, turbilhão.

Seu coração, imprecisão.

Tudo era limbo.

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